5. O Ciclo Militar do Clã Tourinho no Sul do Brasil

Uma das mais antigas referências do nome Tourinho no Brasil trata-se do bravo e audacioso bandeirante Sebastião Tourinho, primeiro português que, da costa, penetrou o interior do país. Partindo, em 1573 de Porto-Seguro, subiu o rio Doce até as proximidades de Vila Rica. Daí, seguiu por terra, até atingir o rio Jequitinhonha (‘Viagem Pitoresca Através do Brasil’ de João Maurício de Rugendas).

 

A genealogia da árvore da família Tourinho plantada em terra generosa e fértil, cresceu e distendeu seus diversos ramos, floresceu e produziu sementes que, dispersas pelo destino germinaram em todo o território brasileiro proporcionando uma vasta e ilustre linhagem de descendentes.  Ao sangue do bravo e audacioso bandeirante Sebastião Tourinho,  ao sangue de seus descendentes, através dos caprichos insondáveis do destino e pela ação inexorável do meio, se mesclou ao dos indomáveis e autênticos filhos da terra, os tupinambás, os potiguaras, os tabajaras, os tupiniquins, os tamoios, etc., enfim, dos integrantes da grande e poderosa família dos tupis-guaranis.

Ciclo militar do clã Tourinho no sul do Brasil onde estão representados apenas os engenheiros-militares que tiveram atuação decisiva nos rumos e na história do Paraná
Ciclo militar do clã Tourinho no sul do Brasil onde estão representados apenas os engenheiros-militares que tiveram atuação decisiva nos rumos e na história do Paraná

O organograma, acima indicado, descreve o ciclo militar do clã Tourinho no sul do Brasil onde estão representados apenas os engenheiros-militares que tiveram atuação decisiva nos rumos e na história do Paraná. A história e o currículo destes honrados benfeitores do povo paranaense, estão detalhados no decorrer deste trabalho, nos levando a perscrutar o passado e sonhar com o futuro.

 

Ressalta-se que a vocação militar da família Tourinho, no sul do Brasil, não se resume apenas neste período da história. Gerações seguintes constituídas por respeitados oficiais militares, também contribuíram com uma parcela importante de honestidade, dedicação, interesse, lealdade e invejável capacidade de trabalho para o engrandecimento da nação e, em especial, do Exército Brasileiro:

 

  • Coronel Luiz Fernando Nascimento Tourinho,
  • Coronel Plínio Lúcio Machado Tourinho,
  • Coronel Carlos Alberto Machado Tourinho,
  • Coronel Plínio Eduardo Ulhôa Cavalcanti,
  • Coronel e Oficial Paraquedista Luiz Sérgio Machado Tourinho.
5.1. Francisco Antonio Monteiro Tourinho – Capitão Engenheiro Militar (1837-1885)

Francisco Antonio Monteiro Tourinho, filho do Coronel Francisco Antonio Touriño (assim assinava o seu nome) e Sra. D. Maria Carolina Monteiro Tourinho, nasceu na região de Niterói (Fazenda do Imbuí), na província do Rio de Janeiro, em 8 de agosto 1837. Cursou a Escola Central no Largo de São Francisco (mais tarde Escola Politécnica do Rio de Janeiro), onde diplomou-se como engenheiro. Em seguida transferiu-se para a Escola Militar da Praia Vermelha onde saiu Alferes-Aluno¹ em 1860 (a Escola Militar da Praia Vermelha equivale ao curso da Academia Militar das Agulhas Negras, AMAN, localizada na cidade de Resende, no Rio de Janeiro). Ao deixar a Escola foi nomeado ajudante de ordens do presidente da Província de São Paulo. Aos 27 anos, Monteiro Tourinho, já como tenente, foi nomeado pelo Governo Imperial, em 1864, a engenheiro fiscal das obras de construção da Estrada Dona Francisca, em Santa Catarina (Colônia fundada em homenagem a irmã de Dom Pedro II ao casar-se com o príncipe de Joinville). Chegou à sede da Colônia no ano de 1865 (quando começava a guerra do Paraguai) e fiscalizou as obras de construção da estrada por um período de 2 anos por ocasião do contrato do Governo Imperial  assinado com a “Sociedade Colonizadora Hamburgo” (a estrada Dona Francisca foi a segunda estrada do Brasil a possibilitar o trânsito de carroças). Foi promovido a capitão em 2 de janeiro de 1866.

 

Em 3 de julho de 1867 deixou a função em Santa Catarina. Passou à disposição da Província do Paraná (emancipada em 1853). Nomeado diretor interino da construção da Estrada da Graciosa, recebeu-a do engenheiro Antonio Rebouças, no dia 23 de agosto de 1867. A construção da Estrada da Graciosa teve início no governo do Presidente da Província, Zacarias de Góis e Vasconcelos (em 1854) e foi concluída em 1873. Registros e relatos tecidos pelo próprio Monteiro Tourinho, a respeito da construção da Estrada da Graciosa, estão disponíveis no Volume XIX, Ano 1973, do BOLETIM Especial do Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico Paranaense, caderno Comemorativo ao 1° Centenário da Estrada da Graciosa 1873-1973 (páginas 61 a 109).

Estrada carroçável da Graciosa (1854/1873)
Estrada carroçável da Graciosa (1854/1873)

Datam do início do século XVIII as primeiras notícias sobre a pioneira Trilha da Graciosa, que deu origem ao trajeto. As obras foram iniciadas logo após a criação da Província do Paraná (emancipado em 1853), por ordem do seu primeiro presidente, Zacarias de Góis e Vasconcelos. Até a metade do século XX, a Estrada da Graciosa permaneceu como única estrada pavimentada do Estado, sendo importante rota de escoamento da produção agrícola do Paraná rumo ao porto de Paranaguá e Antonina (café, feijão, milho, erva-mate e madeira). A construção da estrada teve início em 1854 e suas obras foram concluídas em 1873. Seu caminho é tortuoso, com curvas fechadas, rampas íngremes, calçamento em macadame hidráulico (paralelepípedo), pontes e pontilhões de ferro cruzam os rios e riachos característicos da região, taludes e muros de arrimo em pedra bruta se fazem presentes em vários trechos da estrada que possui sofisticado sistema de drenagem para captação e destino das águas pluviais. A Estrada da Graciosa foi um marco para a economia do Estado, uma conquista para a engenharia paranaense e um impulsionador do desenvolvimento da região Litorânea.

Casou em 1870 com Maria Leocádia Alves na Matriz de Nossa Senhora do Pilar, em Antonina. Dos dez filhos que tiveram, seis faleceram na infância e apenas 4 vingaram: Mário (1871), Themira (1873), Mercedes (1880) e Plínio (1882). Em 1871, foi concedido pela primeira vez, através de decreto emitido pelo governo Imperial, recursos para a construção de uma estrada de ferro ligando Curitiba a Antonina, passando por Morretes, sob a responsabilidade dos engenheiros Antonio Pereira Rebouças, Francisco Antonio Monteiro Tourinho e Maurício Schwartz. A construção dos 110 quilômetros de ferrovia foi permeada de grandes dificuldades, sacrifícios e desafios para vencer as escarpas da Serra do Mar com profundos desfiladeiros (trabalhadores caíam nas grotas, epidemia de tifo, febre amarela, peste bubônica, varíola, etc.). Tudo aconteceu, mas nada demoveu nem atrasou o andamento da gigantesca obra. O quilômetro 45 foi o grande marco do monumental projeto. À mão, artesanalmente, 14 túneis foram abertos no coração das montanhas íngremes, instalaram-se cerca de 30 pontes e vários viadutos de grandes vãos. A ponte São João (em treliças de aço), com 55 metros de altura, sobre o fundo de uma grota e um viaduto que seria ligado ao túnel rochedo e sustentado sobre cinco pilares de concreto na encosta da própria rocha é considerada uma das obras mais imponentes do projeto. No ponto mais elevado, na entrada do túnel Roça Nova, a estrada de ferro atinge 955 metros acima do nível do mar. Em 1873, é dado por inaugurado os trabalhos da estrada de ferro no trecho Paranaguá-Morretes. Francisco Monteiro Tourinho, engenheiro-chefe que teve a ventura de concluí-la, disse no seu Relatório: “Está concluída a estrada da Graciosa, a mais urgente aspiração da Província”.

Construção dos 110 quilômetros da ferrovia Paranaguá-Curitiba, permeado de grandes dificuldades, sacrifícios e desafios para vencer as escarpas da Serra do Mar e a exuberante Mata Atlântica. Em 110 quilômetros a estrada contemplou  72 pontes, 98 metros de arrimo, 279 bueiros, 88 drenos, 78 pontilhões, 50 entroncamentos e 14 túneis escavados manualmente no coração da montanha. A ponte São João, construída com treliças de aço, a 55 metros acima do nível do terreno natural é considerada uma das obras mais imponentes do projeto.

Em 1878, Monteiro Tourinho foi o responsável pela conclusão do trecho inicial da estrada do Mato Grosso, entre Curitiba, Campo Largo e Palmeira (caminho dos tropeiros) onde projetou e executou a construção da imponente ponte sobre o Rio dos Papagaios (1876). A ponte foi construída em arcos romanos, no formato de um ‘M’, na região dos Campos Gerais e por ela passou o Imperador Dom Pedro II durante sua visita a província em 1880.

Ponte sobre o Rio dos Papagaios (1875/1876)
Ponte sobre o Rio dos Papagaios (1875/1876)

Ponte construída no período de 1875 a 1876 cruzando o Rio dos Papagaios (tributário do Rio Iguaçu), na então chamada estrada do Mato Grosso que liga Paranaguá a Foz do Iguaçu, passando por Curitiba (atual BR-277). A ponte, que custou 44 contos de réis, possui dois arcos romanos de alvenaria de pedra, em formato de um ‘M’ lembrando a arquitetura das pontes medievais. Todas as pedras utilizadas na obra foram extraídas das pedreiras de grés dos Campos Gerais, de rochas homogêneas e resistentes sem o emprego da pólvora. Os blocos foram talhados conforme os desenhos descritos no projeto. Nenhuma pedra foi empregada sem ter sido antes examinada pelo engenheiro Francisco Antonio Monteiro Tourinho, ou por seu ajudante. Na alvenaria de argamassa e na alvenaria seca só se admitiam pedras em forma de paralelepípedo que não exigissem calços cuja grossura excedesse 15 milímetros. Segundo historiadores, na visita realizada a Província do Paraná, em 1880, quando passou pela ponte, Dom Pedro II teceu o seguinte comentário: “É uma bela ponte Dr. Tourinho, mas pena que não vai durar muito”. Para contrariar o Imperador a ponte encontra-se intacta e majestosa até os dias de hoje vencendo as agruras do tempo, transformando-se num dos mais belos e respeitados patrimônio histórico da engenharia paranaense.

Enquanto trabalhava na construção da ponte do rio dos Papagaios, Monteiro Tourinho recebeu a incumbência de verificar a qualidade das terras do Capão da Anta (região de Palmeira) adquiridas com viés político pelo Presidente da Província, Sr. Rodrigo Otávio, para o assentamento de emigrantes europeus (política adotada pelo governo provincial para o povoamento do território paranaense quando deixou de ser Comarca da Província de São Paulo em 1853). Monteiro Tourinho foi contrário a decisão do Presidente da Província e seu parecer para o assentamento dos russos-alemães vindos do Volga no Capão da Anta foi taxativo: “as terras não prestam para a agricultura”. Em 1880, na viagem que fez ao interior da Província, ao chegar em Palmeira o imperador Pedro II manifestou interesse em conhecer o célebre capão, embora as maquinações de alguns políticos da região para impedir sua visita, sob alegação do mau estado da estrada. Mesmo assim o imperador foi. Mandou seu ajudante-de-ordem cutucar o solo com a ponta do sabre. Então exclamou: “Manto verde de relva sobre laje estéril de arenito! Isto não dá nem capim, isto é cascalho, não é terra.  Os russos tinham razão”.

 

Francisco Monteiro Tourinho realizou, também, o estudo de viabilidade do projeto da ferrovia Atlântico-Pacífico, em 1877, que pretendia transpor o Rio Paraná na altura dos saltos de Guaíra (região submersa pelo lago de Itaipu em 1982). No relatório que encaminhou aos deputados provinciais, Lamenha Lins defendeu as recomendações do engenheiro Francisco Monteiro Tourinho que se opunha ao traçado feito pelo engenheiro inglês William Lloyd e seu colega sueco Christian Palm. Para Francisco Tourinho, a ferrovia deveria seguir o curso do Rio Piquiri e transpor o Rio Paraná, em direção ao Mato Grosso, através de uma ponte, na região de Sete Quedas em Guaíra no oeste do Paraná. A ideia de uma ferrovia ligando o litoral ao planalto, para depois prolongar-se até as barrancas do rio Paraná e chegar ao Pacífico, teve origem no desastre diplomático que culminou com a Guerra do Paraguai.  No entanto, esse projeto dependia da vontade da Corte Imperial para ser encaminhado. Lá não havia nem idealismo nem entusiasmo com o desenvolvimento do sertão no Brasil e o projeto acabou sendo abandonado. Cento e vinte e um anos mais tarde, no ano de 1998, foi inaugurada a ponte fluvial Ayrton Sena, com comprimento de 3.607 metros, percorrendo a mesma região indicada nos estudos de Monteiro Tourinho, promovendo a integração das fronteiras agrícolas das regiões Norte e Centro-Oeste com a região Sul do país. Embora Francisco Tourinho seja reconhecido como o grande idealizador da ferrovia Antonina-Antofagasta (o traçado proposto traria grandes e legítimas contribuições em prol da sociedade paranaense), as autoridades regionais, no entanto, ao nomear a maior ponte fluvial do Brasil (registro estatístico de 2016), resolveram homenagear uma personalidade de renome internacional, porém sem vínculos com o Estado e com contribuições despretensiosas para o desenvolvimento e para a economia do extenso território paranaense.

Figura Ilustrativa do traçado da estrada Curitiba-Mato Grosso (Caminho dos Tropeiros)
Figura Ilustrativa do traçado da estrada Curitiba-Mato Grosso (Caminho dos Tropeiros)
Modelo de ponte ferroviária que Monteiro Tourinho idealizou construir sobre o Rio Paraná, na região de Sete Quedas em Guaíra (PR)
Modelo de ponte ferroviária que Monteiro Tourinho idealizou construir sobre o Rio Paraná, na região de Sete Quedas em Guaíra (PR)

A ponte de Guaíra, sobre as cataratas de Sete Quedas, foi proposta em 1877. No ano de 1876, Monteiro Tourinho dirigiu-se aos pessimistas que viam na ferrovia para o oeste um instrumento que facilitaria a invasão do território brasileiro pelos turbulentos vizinhos localizados às margens do rio Paraná. Proferiu o seguinte discurso: “E que não surjam os fantasiadores de guerra, objetando que a linha das Sete Quedas que proponho, exporá o nosso território às invasões paraguaias, a tomadas de flancos e quejandos, porque de antemão lhes respondo: Que os mesmos caminhos de ferro que conduziram os prussianos a Paris, teriam levado os franceses a Berlim”. A preocupação com as invasões vizinhas era crescente e se dava, em particular, pelo trauma da recente guerra com o Paraguai (1864-1870) que foi o maior conflito armado internacional da América do Sul.

Em 1886, Monteiro Tourinho projetou e construiu o quartel do 5° Regimento de Infantaria na cidade de Curitiba tornando-se, na sequência: 3ª RAM, CPOR/5 e 5° BLOG (a fachada da edificação foi preservada pelo Conselho Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico e, atualmente, nele funciona um moderno shopping center).

( - 1886- )
( - 1886- )
( - 2016 - )
( - 2016 - )

O projeto do 5° Regimento de Infantaria, data do ano de 1886. A edificação compreende um corpo central abrangendo ampla entrada servida por escadaria de pedra e duas alas simétricas nas laterais. Acima do acesso central foi idealizada a construção de um pequeno varandim ou balcão, cujo acesso se dava através da sala do comandante. De harmoniosa arquitetura, recebeu forte influência da escola militar Portuguesa que era o estilo vigente na época: linhas retas; detalhes em semiarcos e grandes janelas para permitir a iluminação da área interna; com guaritas e pseudo torres tendo sobre o coroamento da respectiva platibanda sucessão de aberturas de composições simétricas (ameias e merlões) cuja linguagem arquitetônica remete às antigas fortalezas medievais. A forma estilizada desta edificação representa um marco referencial, símbolo do poder do Estado. Na frente do quartel, localizado na Rua Brigadeiro Franco, existia um grande descampado (atualmente a Praça Oswaldo Cruz) e ao seu redor apenas pequenas propriedades rurais e chácaras.

Em 1880, Monteiro Tourinho acompanhou a visita do Imperador Dom Pedro II a província do Paraná que tinha como objetivo percorrer as terras paranaenses pela primeira vez, vistoriar as unidades militares do sul após o término da Guerra do Paraguai (1864-1870) e inaugurar a monumental estrada de ferro Paranaguá-Curitiba realizada com recursos do Império (primeira concessão imperial feita através do decreto n° 4.474 de 1º de janeiro de 1871). Foi nomeado inspetor das Colônias Militares, em 17 de dezembro de 1883, e tinha como missão fiscalizar as colônias do Chopim, Chapecó e Jataí. O papel das colônias militares era garantir a soberania do território nacional no sul do Brasil. A experiente vida nas fileiras militares e os longos trajetos percorridos ao lombo de burro pelo território paranaense facilitou-lhe organizar o primeiro mapa da Província do Paraná (carta geográfica), solicitada em 1880 pelo presidente da Província, Dr. João José Pedrósa, e que foi doado ao acervo do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, no Rio de Janeiro, em 1883.

 

Francisco Monteiro Tourinho, entusiasta inconteste da ciência e literatura, patrono das cadeiras da Academia de Letras do Paraná, foi engenheiro Civil e Militar construtor de estradas, membro do Instituto Politécnico Brasileiro, oficial de Estado Maior de 1ª Classe, Bacharel em Ciências Físicas e Matemáticas e Cavaleiro da Ordem de São Bento de Aviz². Notável servidor do Estado, pleno espírito de imparcialidade, escreveu muito sobre o Paraná. Cultor das Letras, deixou muitas contribuições impressas. São notáveis as colaborações registradas nos jornais da época: ‘Antonina’ (1873), ‘Revista Paranaense’ (1881), ‘Dezenove de Dezembro’ (1907), ´Revista do Clube Curitibano´ (1891) e ‘Jornal dos Poetas’. Consta da sua vasta bibliografia ‘Bosquejo Histórico da Estrada da Graciosa’. Encerrou sua trajetória na vida militar aos 48 anos de idade quando veio a falecer, ainda jovem, no dia 22 de maio de 1885 na cidade de Antonina.

 

As seguintes contribuições bibliográficas de Francisco Antonio Monteiro Tourinho estão disponíveis, para consulta (em documento impresso), no acervo do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná:

 

  • TOURINHO, Francisco Antonio Monteiro (Cap. Eng.). Bosquejo Histórico da Estrada da Graciosa, 1972, Volume XIX/61.
  • TOURINHO, F.A. Monteiro; e RIBAS, José Lourenço de sá; e MURICY, J. Candido da Silva. Descripção Geral da Província do Paraná em 1867, 1918, Volume II/7/87.
  • TOURINHO, F.A. Monteiro. Compendio de Metrologia para uso das Escolas Primárias da Província do Paraná. Curitiba 4 de outubro de 1874.

¹ Alferes-Aluno:  título recebido pelos alunos aprovados plenamente ao final dos anos iniciais do curso militar e que representava, além do prêmio meritocrático pela performance escolar, um aumento substancial nos vencimentos

² Ordem de São Bento de Aviz: tradicionalmente militar, esta Ordem remonta à medieval Ordem de São Bento de Aviz. Parece ter-se originado na Espanha, como ramo da ‘Ordem de Calatrava’, embora muitos historiadores afirmem que sua criação teria se originado em Portugal, no século XII, por D. Afonso Henriques. No século XVI, a Ordem de Aviz passou à administração dos reis de Portugal e, a partir do século XVIII, tornou-se exclusivamente de caráter honorífico militar. Trazida para o Brasil pelo Príncipe Regente D. João, aqui vigorou durante sua estada e, em seguida, sob o grão-mestrado de D. Pedro, até 1827, quando foi abolida. Reorganizada anos mais tarde, e tendo confirmada sua finalidade específica de premiar serviços militares, voltou a ser conferida, sendo a única ordem honorífica portuguesa mantida pelo Governo Provisório, após a Proclamação da República no Brasil.

Ordem de São Bento de Aviz
Ordem de São Bento de Aviz

Francisco Antônio Monteiro Tourinho e Descendentes Diretos (Filhos e Netos)

5.2. Mário Alves Monteiro Tourinho – Oficial General do Exército (1871-1964)

Órfão aos 13 anos de idade, iniciou a vida na carreira militar aos 15 anos (1886) como soldado raso (nr. 126) no 2° Corpo de Cavalaria Ligeira (uma das primeiras unidades a se alojar no quartel localizado na Praça Oswaldo Cruz, em Curitiba, construído pelo seu pai, o capitão Engenheiro Francisco Antonio Monteiro Tourinho). Natural de Antonina, o alistamento no serviço militar junto ao 2° Corpo de Cavalaria Ligeira tinha como objetivo buscar uma oportunidade para ingressar nos quadros da prestigiada Escola Militar da Praia Vermelha, trilhando o exemplo do Pai. Sua ambição era estudar, conquistar uma posição na sociedade e ser útil ao País.

 

Em 1889, já sargento, foi designado para fazer o Curso de Tiro na Escola Prática do Realengo. Na Corte do Rio de Janeiro aconteciam fatos graves na vida da nação. Eram os últimos dias da Monarquia. Militares do exército brasileiro, liderados pelo Marechal Deodoro da Fonseca, destituíram o imperador Dom Pedro II e o Marechal Deodoro acabou assumindo o poder do país no dia quinze de novembro, dia da proclamação da República. O sargento Mário Tourinho seguiu para a Corte, na guarnição de uma metralhadora, acompanhando o 1° Batalhão de Engenharia, que se recolhia ao Rio de Janeiro, depois de sediar em Mallet, dando apoio à Comissão de Linha Telegráfica. Com a proclamação da República conseguiu matricular-se na Escola Militar, em março de 1890. Em 1892 concluiu os cursos preparatórios (revisão obrigatória de matemática elementar) e matriculou-se no Curso Superior. Atacado de beribéri, foi transferido para a Escola Militar de Porto Alegre.

 

A Revolução Federalista, de 6 de setembro de 1893, pegou-o ainda no Paraná, onde convalescia. Comissionado no posto de 2° tenente de artilharia incorporou-se ao destacamento do General Francisco de Paula Argollo, cuja missão era recuperar Santa Catarina, já em poder dos federalistas e da esquadra rebelde. Por motivos de ordem militar passou a servir sob as ordens do General Gomes Carneiro a quem o Marechal Floriano Peixoto incumbira de sustentar o cerco da Lapa onde travou combates contra os revoltosos liderados por Gumercindo Saraiva. O cerco sustentou-se durante 26 dias de heroica resistência por ocasião da guerra civil (Guerra Federalista ou Revolta Armada, 1893-1894). As tropas Republicanas legalistas (denominados por ‘pica-paus’), a favor do Marechal Deodoro da Fonseca, resistiram bravamente aos ataques das tropas federalistas (denominados por ‘maragatos’), mas sucumbiram por falta de munição e comida. Com relação a atuação de Mário Tourinho o Boletim do Exército nº 831 publicou o seguinte elogio:

” … fez parte, como oficial subalterno, da bateria de artilharia, do comando do Capitão João Maria Sisson, durante o cerco de 26 dias, pelos federalistas, à cidade da Lapa, tendo tomado parte nos combates dos dias 14, 15, 17 e 23 de janeiro, 3 e 7 de fevereiro, tudo em 1894, e neles se portando com a maior bravura”.

A batalha do Cerco da Lapa deu ao Marechal Floriano Peixoto, chefe da República, tempo suficiente para reunir forças e deter as tropas federalistas. Ao todo foram 639 homens entre forças regulares e civis voluntários, lutando contra as forças revolucionárias formadas por três mil combatentes. Os restos mortais do General Carneiro, assim como de muitos outros que tombaram durante a resistência, estão sepultados no Panteão dos Heróis, na cidade da Lapa.

2° Tenente Mário Tourinho sob o comando do Coronel Gomes Carneiro, no cerco da Lapa, em 1894.
2° Tenente Mário Tourinho sob o comando do Coronel Gomes Carneiro, no cerco da Lapa, em 1894.

Terminada a campanha militar nos campos de batalha, Mário Tourinho retornou aos estudos na Escola Militar de Porto Alegre. Foi confirmado, por Floriano Peixoto, no posto de 2° tenente. Concluiu o Curso de Artilharia em 1898 quando sua mãe veio a falecer. Foi promovido a 1° tenente, em 1901. Capitão em 1908. Neste posto tomou parte na campanha do Contestado (1915), incorporado à Coluna Sul, sob o comando do Coronel Estilac Leal. Com sua bateria de obuseiros, pela primeira vez empregada no Brasil, marchou de Calmon à Tapera de Santa Maria, através de picada aberta à rumo, sem desenvolvimento nenhum, para aliviar aclives ou declives, atravessando rios de corrente a váu.

 

Antes disso, em 1912, integrou o Corpo Docente da Faculdade de Engenharia, da recém-criada Universidade do Paraná (atual UFPR), lecionando as disciplinas de Aritmética e Álgebra Elementar. Promovido ao posto de major, por merecimento, sendo Afonso Camargo presidente do Estado, assumiu o comando da Polícia Militar do Estado do Paraná entre 1916 e 1918. Major em 1919, serviu no Colégio Militar de Barbacena, sob o comando do Coronel Leopoldo Belém Aloys Scherer. Foi comandante do 2° Grupo Pesado de Obuses em Jundiaí, São Paulo, em 1922. Em 1924, quando comandava o 9° Regimento de Artilharia (9° RAM), no posto de tenente-coronel, participou do cerco de São Paulo, que estava ocupada pelas forças revolucionárias do general Isidoro Dias Lopes. Em 1925 comandou um destacamento, em Campos Novos, Santa Catarina, para impedir que Luiz Carlos Prestes interceptasse a ferrovia São Paulo-Rio Grande, entre União da Vitória e Marcelino Ramos. Em 1926, dirigiu o Arsenal de Guerra de Porto Alegre e, na sequência, passou para a reserva reformando-se como General de Divisão Graduado, a mais alta patente do Exército Brasileiro.

 

Retornou a Curitiba, após 42 anos de vida militar e regressou a vida civil. Na madrugada de 5 de outubro de 1930 o 5° Regimento de Cavalaria Isolada, comandado pelo Capitão Nelson Palmeiro Pinto Dias, escoltando o automóvel que conduzia o Major Cícero Costard, parou diante de sua casa na Rua Comendador Araújo. Vinham convidá-lo para assumir o governo do Estado, cargo que ficou vago com a fuga do Presidente Afonso Camargo que não aderiu ao movimento revolucionário de 1930. Costard disse-lhe tratar-se de decisão dos oficiais rebelados, porque seu irmão, Major Plínio Tourinho, assumira o Comando da 5ª Região Militar. Então, embora legalista no decorrer de sua vida militar, acedeu ao convite para cooperar com o irmão. Às 5 horas da tarde, do dia 5 de outubro de 1930, assumiu o Governo do Estado, no salão nobre do Palácio da Liberdade, na Rua Barão do Rio Branco.

Mário Tourinho (esquerda), Getúlio Vargas (centro) e Plínio Tourinho (direita). Reunião na UPFR, momentos antes do Chefe das Forças Revolucionárias deixar o Paraná e seguir em direção a capital Federal no Rio de Janeiro
Mário Tourinho (esquerda), Getúlio Vargas (centro) e Plínio Tourinho (direita). Reunião na UPFR, momentos antes do Chefe das Forças Revolucionárias deixar o Paraná e seguir em direção a capital Federal no Rio de Janeiro

O Presidente Afonso Camargo ao abandonar o Paraná deixou as finanças do Estado em ruínas. Funcionalismo público com dez meses de atraso. Dívidas em bancos nacionais e estrangeiros. Promissórias nas mãos de agiotas, negociadas com deságio de 50%. O empréstimo-ouro, realizado pelo Secretário da Fazenda, não se sabia onde e como havia sido aplicado. As obras do Porto de Paranaguá e da Estrada de Ferro de Guarapuava mal tinham sido iniciadas. A dívida do Estado somava 230 mil contos de réis, para uma arrecadação anual que não ultrapassava 25 mil.

 

De formação militar, habituado à disciplina castrense, Mário Tourinho nunca havia se envolvido com política. Durante seu curto período de governo, como interventor, realizou os estudos para a recuperação financeira do Estado, promoveu sindicâncias sob critérios apolíticos, apurou responsabilidades sem intenções preconcebidas, anulou concessões de serviços públicos mediante acordos amigáveis, enfim, adotou parâmetros de procedimentos sem a passionalidade das emoções revolucionárias. Em um ano, sem alarde e propaganda, o general Mário Tourinho equilibrou o orçamento da máquina administrativa, que durante os anos anteriores fora corroído por assombrosos e recorrentes déficits públicos.

 

Mário Tourinho, tratava-se de general forjado no sentimento do estrito cumprimento do dever. Não baixava a cabeça. Por duas vezes se opôs à vontade do Presidente revolucionário Getúlio Vargas. Não concordou com o desmembramento do Paraná para formar o Território do Iguaçu. Tampouco com a proibição do plantio de café na região Norte conhecida como Norte Pioneiro.

 

Inflexível no trato da coisa pública, adotou procedimentos que acabaram por desencadear o descontentamento dos revolucionários e forças oponentes. Isso descontentou muito os quartéis e segmentos partidários (‘Partido dos Tenentes’, ‘Legiões Revolucionárias’ e ‘Clube 3 de Outubro’). Na área política conviveu com um eterno queixume. Viu-se, de repente, sob o turbilhão de intrigas que lhe desestabilizavam o governo (telegramas mentirosos, denúncias falsas, relatórios caluniosos, greves, etc.). Sem o chamado “jogo de cintura” para aparar arestas ou satisfazer ambições descabidas, por ser brioso e justo, viu-se obrigado a renunciar ao cargo em 29 de dezembro de 1931.

 

Em depoimento posterior, prestado ao historiador Francisco Negrão, assim se referiu ao episódio: “Começou a minha via-crúcis, carregando o pesado lenho das ambições, das perfídias, das calúnias, das traições”.

 

Homem de envergadura moral exemplar, faleceu na cidade de Curitiba, em 25 de outubro de 1964, aos 93 anos deixando esposa, filhos, sobrinhos e netos. O governador Ney Braga determinou luto oficial de três dias. Foi enterrado no Cemitério Municipal de Curitiba com honras militares, toques de clarins e salvas de canhão. Seus restos mortais foram transferidos para o Panteão dos Heróis imortais da Lapa, no dia 9 de fevereiro de 1974 data em que o cerco completava 80 anos. A inumação dos despejos mortais de Mário Tourinho foi realizada em solenidade  de caráter cívico-religioso-militar com honras reservadas a chefes de Estado.

Interventor do Paraná em 1930, General Mário Tourinho, foi diplomado cidadão honorário de Curitiba em outubro de 1958.
Interventor do Paraná em 1930, General Mário Tourinho, foi diplomado cidadão honorário de Curitiba em outubro de 1958.

As seguintes contribuições bibliográficas de Mário Alves Monteiro Tourinho estão disponíveis para consulta (em documento impresso), no acervo do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná:

  • TOURINHO, Monteiro. Nova Guayra (A), 1918, Volume II/6/59.
  • TOURINHO, Mário (Gen.). Ação do Interventor Federal do Paraná… contra a Empresa Mate Laranjeira, 1984, Volume XLII/79.
  • TOURINHO, Mário (Gen.). Visita do Imperador D. Pedro II e a Imperatriz Teresa Cristina, 1975, Volume XXVII/325.
  • TOURINHO, Mário (Gen.). Visita do Imperador D. Pedro II e a Imperatriz Teresa Cristina, 1993, Volume XLVIII/275.

Mário Alves Monteiro Tourinho e descendentes diretos (Filhos e Netos) do primeiro matrimônio:

Filhos (4) e Netos (4) de Mário Alves Monteiro Tourinho frutos do primeiro matrimônio com Osminda Rebello Tourinho
Filhos (4) e Netos (4) de Mário Alves Monteiro Tourinho frutos do primeiro matrimônio com Osminda Rebello Tourinho

Mário Alves Monteiro Tourinho e descendentes diretos (Filhos e Netos) do segundo matrimônio:

Filhos (5) e Netos (7) de Mário Alves Monteiro Tourinho frutos do segundo matrimônio com Leopoldina Rebello Tourinho
Filhos (5) e Netos (7) de Mário Alves Monteiro Tourinho frutos do segundo matrimônio com Leopoldina Rebello Tourinho
5.3. Plínio Alves Monteiro Tourinho – Comissionado General de Brigada (1882-1950)

Órfão de pai aos três anos, sobreviveu a infância atribulada pela miséria, ao lado da mãe e 3 irmãos (Mário, Themira, Mercedes os demais seis irmãos faleceram ainda na infância). A mãe, Maria Leocádia Alves, veio a falecer em 1898, deixando Plínio Tourinho, com apenas 15 anos, totalmente desprovido e desamparado. No ano seguinte, aos dezesseis anos, assentou praça no 6° Regimento de Artilharia, em Curitiba. Logo chegou ao posto de cabo. Em maio do mesmo ano (1899) seguiu para o Rio Grande do Sul. Matriculou-se na Escola Preparatória e de Tática de Rio Pardo. Ali permaneceu durante três anos. Foi colega de Getúlio Vargas gaúcho bairrista obstinado pelo desejo de ser presidente. Ao chegar a Rio Pardo, precisou estudar muito.  Quando Plínio Tourinho chegou à Escola Preparatória as atividades escolares já haviam sido iniciadas há mais de dois meses. Deu duro. Estudou Português, Francês, Geografia, Aritmética, Álgebra, Desenho de Aquarela, Geometria, Física, Química, História Universal e História do Brasil. Não tirou nenhum grau abaixo de seis. Em 1902 foi transferido para a Escola Militar da Praia Vermelha, no Rio de Janeiro (a Escola Militar da Praia Vermelha equivale ao curso da Academia Militar das Agulhas Negras, AMAN, localizada na cidade de Resende no Rio de Janeiro). Encontrou pela frente professores de respeito e renome a exemplo do Coronel Trompowski Leitão de Almeida, João Fulgêncio Mindello, Manoel Liberato Bitencourt, Joaquim Marques da Cunha, Uchoa Cavalcanti, José Eulália, Samuel de Oliveira e outros. No 1° ano cursou as matérias de Álgebra Superior, Geometria Analítica, Cálculo Diferencial e Integral, Geometria Descritiva, Física e Meteorologia. No 2° ano cursou as cadeiras de Química Mineral e Orgânica, Metalurgia, Mecânica Racional, Balística, História Militar e Topografia. No 3° ano estudou Direito, Fortificação, Sombras e Perspectivas, Infantaria, Cavalaria e Artilharia. Em dezembro de 1904 concluiu o curso.

 

No dia 15 de novembro de 1904, quando se completava os quinze primeiros anos da recém Proclamação da República, o General Hermes da Fonseca abafou um levante de amotinados e insatisfeitos que estavam sediados no Realengo (revolta urbana contra a lei da vacina obrigatória instituída no Rio de Janeiro pelo médico sanitarista Oswaldo Cruz, Ministro da Saúde, no combate à febre amarela e que, na ocasião, pelo seu caráter autoritário e invasivo, teve a adesão da Escola Militar da Praia Vermelha, Escola Tática do Realengo e de vários Sindicatos). A Escola Militar foi ocupada pelas tropas legais. O rito foi sumário e aqueles que assumiram responsabilidades no movimento foram imediatamente desligados. Aconteceu com Plínio Tourinho, embora nada tivesse com a rebelião. Embarcou num navio com destino ao porto do Rio Grande, sendo transferido para um regimento militar sediado em Bagé, no posto de cabo. Ao dar baixa, Plínio Tourinho seguiu para Porto Alegre. Fora das fileiras militares, conseguiu emprego de caixeiro numa loja de armarinhos. Usou os conhecimentos de Geometria Diferencial e Integral, Balística, Tática, etc. para vender ceroulas, meias, camisas e bombachas para os peões gaúchos da região. Conseguiu juntar algum dinheiro. Comprou passagem de 3ª classe num navio com destino ao porto de Paranaguá e de lá seguiu para Curitiba. Foi recebido como filho no lar do professor Dario Vellozo onde passou a residir e ser tratado como se membro da família fosse.

 

Em Curitiba, o presidente Vicente Machado prometeu-lhe uma colocação profissional que nunca ocorreu. Para se manter, dedicou-se ao ensino da matemática e logo obteve sucesso. Os alunos indicavam as aulas do “professor” Plínio a colegas e amigos. Com facilidade inata de ensinar, o número de aulas foi se multiplicando rapidamente e durou até setembro de 1905 quando o governo federal concedeu anistia ampla a todos envolvidos no movimento da Revolta da Vacina obrigatória. Plínio Tourinho voltou para a Escola Militar da Praia Vermelha. Completou, com sucesso, o curso das 3 armas (Artilharia, Cavalaria e Infantaria). Recebeu a patente de Alferes-Aluno no dia 14 de março de 1906. Na sequência, foi classificado no 6° Regimento de Artilharia, o mesmo em que assentara praça em 1899. No ano seguinte conheceu a Professora Normalista Esther Ferreira Pereira, casou no dia 2 de maio de 1908, aos 26 anos. Tiveram 11 filhos (Maria Leocádia, Esther, Lúcia, Plínio Francisco, Luiz Carlos, Ayrton, Lasthênia, Enoê, Neusa, Elém e Neida).

 

Em 1910, aos 28 anos, matriculou-se na Escola de Engenharia Militar do Realengo. Recebeu o diploma de Bacharel em Ciências Físicas e Matemáticas e os diplomas de Engenheiro Militar e Oficial do Estado Maior, em 1912, quando transferiu-se da arma de Artilharia para Engenharia. Voltou para o Paraná classificado no 2° Batalhão de Engenharia, sediado em Paranaguá, no Colégio dos Jesuítas, depois em Curitiba, na rua Visconde de Guarapuava.

Plínio Alves Monteiro Tourinho – engenheiro militar do Exército Brasileiro
Plínio Alves Monteiro Tourinho – engenheiro militar do Exército Brasileiro

Aos 41 anos de idade, o capitão Plínio Tourinho já era figura de grande prestígio na guarnição. Como engenheiro do Exército, construiu o quartel do 5° B.C. na cidade de Rio Claro, em São Paulo; o quartel do 13° Regimento de Infantaria, em Ponta Grossa; o quartel do Batalhão de Infantaria, na Lapa; o quartel do 15º Batalhão de Caçadores e do Regimento de Cavalaria, em Curitiba.

 

Chefe de numerosa família, não podia viver com os parcos vencimentos de capitão. Por isso, voltou a lecionar matemática para complementar a renda familiar. Sua notoriedade como educador conquistou toda uma geração de estudantes ávidos a assistirem suas preleções (futuros médicos, advogados e engenheiros).

Plínio Alves Monteiro Tourinho – Esposa, filhos, genros, noras e netos
Plínio Alves Monteiro Tourinho – Esposa, filhos, genros, noras e netos

Nos idos de 1912, Plínio Tourinho, entre outros grandes beneméritos da sociedade paranaense (Victor Ferreira do Amaral, Nilo Cairo da Silva, Hugo Simas, Phâmphilo de Assunção, etc.), deu amplo e integral apoio a fundação da atual Universidade Federal do Paraná (inicialmente com o nome de Universidade do Paraná) junto com a Faculdade de Engenharia onde veio a se tornar professor catedrático de Astronomia, Geodésia e Trigonometria Esférica do curso de Engenharia Civil e, também, professor das disciplinas de Estradas de Ferro, Estradas de Rodagem, Topografia, Materiais de Construção, Economia Política, Estatística, Hidráulica, Direito Administrativo, Cálculo Infinitesimal e Arquitetura Civil lecionando sólidos conhecimentos por um período de 37 anos (a Universidade do Paraná, fundada no dia 19 de dezembro de 1912, é a mais antiga instituição de ensino com concepção de universidade do Brasil). Foi fundador, também, da Escola Agronômica do Paraná.

Universidade do Paraná, atual UFPR, Praça Santos Andrade, 1941
Universidade do Paraná, atual UFPR, Praça Santos Andrade, 1941

Em 1914, incorporou-se às forças sob o comando do general Frederico de Mesquita no episódio da Luta do Contestado, sangrento conflito armado ocorrido na região sul (entre outubro de 1912 e agosto de 1916) quando o Paraná amargou a perda de 28 mil quilômetros quadrados de seu sudoeste para o estado de Santa Catarina. Nomeado para proceder um Inquérito Policial Militar (IPM), foi substituído por não concordar com as autoridades e superiores em acobertar abusos e atrocidades cometidas contra camponeses e caboclos que resultou na perda de 8 mil a 12 mil vidas.

 

Por ocasião da 1ª Guerra Mundial, em 1914, ainda como capitão, foi encarregado de proceder rigorosa inspeção nas fortificações do litoral paranaense e catarinense propondo medidas julgadas urgentes para o pleno funcionamento dessas guarnições militares em caso de um possível envolvimento do Brasil na 1ª Grande Guerra.

 

Plínio Tourinho, como homem público, tornou-se o principal expoente na fundação do Instituto de Engenharia do Paraná (IEP). A criação do IEP, em 6 de fevereiro de 1926, foi resultado do esforço de um grupo ousado de engenheiros, com visão de futuro, que perceberam que a defesa dos interesses da classe precisava de uma entidade que, congregando os engenheiros, uniria forças para a conquista de seus direitos e deveres. Assim, tanto em 1926 como em 1931, já no início da Era Vargas, Plínio Tourinho apresentou a 1ª lei reguladora do exercício profissional da classe, a Lei nº 2384, de 10 de março de 1926, acompanhada no Congresso Legislativo do Estado do Paraná pelo Deputado Estadual Hernani Nogueira Zaina e promulgada pelo Presidente do Estado do Paraná Caetano Munhoz da Rocha.

 

Plínio Tourinho, foi adepto do movimento político-militar, conhecido como movimento “Tenentista” que marcou uma série de rebeliões ocorridas no Brasil no período de 1922 a 1930. O movimento reunia jovens oficiais idealistas do Exército Brasileiro, de baixa e média patente, que estavam descontentes com a situação política do Brasil e propunham reformas na estrutura de poder do país. Na noite de 21 de abril de 1922, Plínio Tourinho, então capitão e professor de Astronomia da Faculdade de Engenharia, rebelou o 5º Batalhão de Engenharia, cujo quartel ficava na Rua Visconde de Guarapuava (onde, mais tarde, veio a instalar-se o Quartel do Corpo de Bombeiros) com a finalidade de depor o presidente Artur Bernardes. Como não houve adesão dos demais corpos da guarnição no território nacional, cumprindo com as promessas assumidas através de um “Pacto de Honra”, o movimento fracassou sem surtir efeito. O comandante da Região, general Ferreira Neto, chamou o capitão Tourinho ao Q.G. Num gesto de camaradagem, aconselhou-o e concedeu-lhe a licença prêmio a que tinha direito. Esqueceu o assunto para não ter que prendê-lo. A rebelião foi uma suposição ingênua, dos jovens militares, de que derrubando o Partido Republicano o Brasil ingressaria numa era de civismo, de trabalho, de moralização, de progresso industrial, de respeito à liberdade e aos direitos dos cidadãos. Esses movimentos não prosperaram porque faltou-lhes o indispensável apoio político, o palanque das praças públicas, única via, na época, para transmitir a mensagem ao povo. Isso só veio a acontecer com a Revolução de 1930.

 

Porém, em 1924, a sorte desta vez não esteve ao seu lado. Não escondia sua inclinação pela Aliança Liberal. Embora não tenha se envolvido no levante, foi preso e recolhido ao Rio de Janeiro acusado de simpatizar com o movimento de 5 de julho, em São Paulo, na revolução promovida pelo general Isidoro Dias Lopes (um dos organizadores da Revolução Constitucionalista ocorrida em 1932).

 

Ao se aproximar o ano de 1930, Plínio Tourinho era major. Seu prestígio era admirado e respeitado por todos no meio militar. Como homem público, tornou-se influente no meio civil, pelos seus escrúpulos, talento pessoal, senso diplomático e contribuições em prol da sociedade paranaense. Por toda parte sua figura simpática e amiga passou e mereceu, justamente, grande respeito e grande acatamento de todos. Seus atributos e, também, seu vínculo com Getúlio Vargas, na época da Escola Preparatória de Rio Pardo (1899), o fez o homem ideal para chefiar o comando das Forças Revolucionárias no estado do Paraná.

 

No dia 14 de julho de 1930, Plínio Tourinho recebeu, através do capitão Djalma Dutra, as primeiras credenciais verbais de Getúlio Vargas, para organizar, no Paraná, um movimento de apoio ao que ia se deflagrar no Rio Grande do Sul, Minas e Paraíba. Embora decepcionado com os fracassos sucessivos de tantas revoluções, Plínio Tourinho empenhou-se nessa missão e conseguiu atrair, com sucesso, o apoio de alguns oficiais da guarnição (38) que mantinham posições estratégicas na Região Militar do Paraná, na 9ª Brigada de Infantaria e em todas as guarnições estacionadas em Curitiba que achavam-se sob o comando de oficiais absolutamente legalistas. As confabulações revolucionárias se faziam em pleno Quartel-General, na sala do Serviço de Engenharia, sob o comando e orientação do major Tourinho. Divergências surgidas na última hora impediram a eclosão do movimento programada para o dia 7 de setembro de 1930. O movimento revolucionário foi consumado, finalmente, na noite do dia 3 de outubro, contra o Presidente Washington Luís. No Paraná, processou-se espontaneamente, sem derramamento de sangue, graças ao entusiasmo reinante no meio militar e a empolgação da população civil. O movimento no Paraná foi fundamental para abrir as portas da 2ª República ou República de Getúlio Vargas. O Major Plínio Tourinho foi comissionado pelo Supremo Comando Revolucionário ao posto de General-de-Brigada e comandante da 5ª Região Militar (Paraná e Santa Catarina). Seu irmão, General Mário Tourinho, oficial da reserva aos 60 anos, assumiu a Presidência do Estado do Paraná como interventor.

 

Plínio Tourinho voltou ao posto de major assim que o movimento revolucionário se consumou. Em 1931 foi nomeado pelas forças tenentistas que assinaram o pacto de Poços de Caldas (MG) delegado militar revolucionário junto à 5ª Região Militar (5ª RM), sediada em Curitiba. Ainda nesse ano tornou-se, em abril, tenente-coronel e, em junho, chefe do Serviço de Engenharia Regional do Paraná. Em 1932 estaria contra Getúlio Vargas pelo fato do líder revolucionário ter traído, de maneira autocrática, os principais anseios da revolução. Getúlio teimava em não convocar a Constituinte. O ano de 1932 começou mal. Os revolucionários, ditos autênticos, cada dia mais insatisfeitos, se desentendiam e viam os sonhos de 1930 se desfazerem com as medidas opressoras tomadas por Getúlio. Em 1932, eclode a Revolução Constitucionalista em São Paulo, primeira grande revolta contra o governo de Getúlio Vargas. Plínio Tourinho foi preso e embarcado para o Rio de Janeiro como medida cautelar a pedido do Ministro de Guerra, Augusto do Espírito Santo Cardoso, que temia um possível apoio das forças paranaenses ao estado vizinho. Plínio Tourinho regressou ao Paraná nos primeiros dias de outubro, logo após a rendição de São Paulo. Em 1933, foi eleito deputado Federal, pela oposição, para participar dos trabalhos de criação da segunda Assembléia Constituinte do Brasil. Mudou-se com a família para o bairro do Leme em Copacabana no Rio de Janeiro. Nesse período, deixou de ser militar e professor. Após a Constituinte, com a promulgação da nova Carta (16/7/1934) foi eleito, novamente, deputado federal pela oposição (Partido Social Nacionalista) para a legislatura de 1935 a 1937.

 

Plínio Tourinho foi o primeiro representante federal do Paraná republicano, pela oposição, eleito pelo voto secreto não se sujeitando à imposição da Liga Eleitoral Católica, que exigia dos candidatos paranaenses compromisso, por escrito, de votar contra a instituição do divórcio e a favor do ensino religioso nas escolas.  Os demais candidatos aceitaram, Plínio Tourinho não aderiu ao compromisso e teve contra si a ação tempestuosa do clero católico.

 

Em 1937, Plínio Tourinho abandonou a política decepcionado com golpe branco. Não concordou com Getúlio Vargas quando fechou a Câmara e o Senado, acabou com os partidos políticos, cassou o direito de voto dos brasileiros e, acima de tudo, outorgou ao povo brasileiro uma Constituição nos moldes fascista (a constituição “polaca“). Getúlio parecia disposto a se perpetuar no governo com poderes discricionários assim como o fez Borges de Medeiros. Getúlio também deixou de realizar o plebiscito que constava da Constituição por ele outorgada, destituiu governadores eleitos (os que o apoiaram foram transformados em Interventores), criou tribunais de exceção para crimes políticos e impôs rigorosa censura nos meios de comunicação. Em 1938 foi nomeado chefe do Serviço de Engenharia da 5ª RM (Região Militar).

 

Plínio Tourinho faleceu no dia 29 de agosto de 1950 deixando a marca de um líder ousado e competente. No mundo acadêmico, sua contribuição mais relevante deu-se através das publicações, póstuma, dos Volumes I e II (total de 990 páginas) do “Tratado de Astronomia” presente no acervo de várias bibliotecas prestigiadas do Brasil e do mundo inclusive, no acervo do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná.

Tratado de Astronomia - Volumes I (450 páginas) e II (440 páginas), Plínio Alves Monteiro Tourinho
Tratado de Astronomia - Volumes I (450 páginas) e II (440 páginas), Plínio Alves Monteiro Tourinho

Seu busto, em bronze, encontra-se colocado, tanto na Praça Santos Andrade, frente a Universidade Federal do Paraná, como no saguão de entrada da Escola de Engenharia do Paraná.

 

Plínio Alves Monteiro Tourinho e descendentes diretos (Filhos e Netos)

Filhos (10) e Netos (17) de Plínio Alves Monteiro Tourinho com Esther Ferreira Tourinho
Filhos (10) e Netos (17) de Plínio Alves Monteiro Tourinho com Esther Ferreira Tourinho
5.4. Plínio Francisco Pereira Tourinho – General de Brigada (1912-1994)

Aos 16 anos, o jovem curitibano mudou-se para a cidade do Rio de Janeiro. Matriculou-se no Curso de Preparação do Colégio Militar do Rio de Janeiro e, posteriormente, ingressou como cadete, no curso da Escola Militar do Realengo.

 

Logo após ser promovido ao posto de Aspirante a Oficial, escolheu a arma de Engenharia e mudou-se para Itajubá em Minas Gerais. Na vida militar, o construtor e engenheiro Plínio Francisco Pereira Tourinho mostrou-se, desde cedo, um competente e habilidoso administrador que lhe assegurou altos elogios e admiração junto aos chefes e subordinados com quem atuou. Plínio Francisco Tourinho externava suas ideias e convicções concordando apenas com o que achava correto e probo agindo nos mesmos moldes éticos e morais como agiram seus antepassados, também militares, que atuaram na arma de engenharia (pai, tio e avô).

 

Casou com Ilka Tinoco Machado, em 24 de janeiro de 1935. Dona Ilka, mulher de grande serenidade e muita fibra, pertenceu a tradicional família lusitana do tronco Silveira Machado. Da união das cepas MACHADO (Rio de Janeiro) e TOURINHO (Paraná) nasceram os filhos: Plínio Lúcio, Carlos Alberto, Luiz Sérgio e Lúcia.

 

Amante do Exército Brasileiro, Plínio Francisco Pereira Tourinho, exerceu as seguintes funções durante o exercício da vida militar:

  • Oficial responsável pelos cursos de formação em motomecanização (EsMB);
  • Comandante da 5ª Cia Com
  • Encarregado da construção da rodovia Ponta Grossa – Foz do Iguaçu.
  • Comandante do 6º Batalhão de Engenharia de Combate entre 1957 e 1959.
  • Chefiou a construção da obra do 5º Batalhão de Engenharia em Porto União.
  • Agente Diretor da AMAN

Por ocasião da conclusão do 5º Batalhão de Engenharia, em Porto União, o Ministro da Guerra no governo Gaspar Dutra, o general Canrobert Pereira da Costa, mandou consignar um boletim especial onde elogiou, pessoalmente, o notável o trabalho do Major Tourinho.

 

Continuou ativo na vida civil após ser reformado no posto de general. Assumiu a Chefia do Serviço de Segurança da Rede Ferroviária Federal, na cidade de Curitiba.

 

Plínio Francisco Pereira Tourinho, faleceu no dia 12 de agosto de 1994, deixando 4 filhos, 8 netos e 3 bisnetos.

 

Contribuição bibliográfica de Plínio Francisco Pereira Tourinho disponível no acervo do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná:

  • TOURINHO, Plínio F.P. Reminiscências de um Radioamador, 1990, Volume XLVII/125.

Plínio Francisco Pereira Monteiro Tourinho e Descendentes Diretos (Filhos e Netos).

Filhos (4), Netos (8) e Bisnetos (12) de Plínio Francisco Pereira Tourinho com Ilka Tinoco Machado Tourinho
Filhos (4), Netos (8) e Bisnetos (12) de Plínio Francisco Pereira Tourinho com Ilka Tinoco Machado Tourinho
5.5. Luiz Carlos Pereira Tourinho – General de Brigada (1913-1998)

Por causa de um erro na certidão de nascimento, revelando ter nascido um ano antes (em 1912), aos 10 anos Luiz Carlos Pereira Tourinho conseguiu ingressar no curso primário do Grupo Escolar Anexo à Escola Normal em Curitiba. Concluiu o curso secundário no tradicional Ginásio Paranaense (antigo Lyceu de Curitiba) e, aos quinze anos, foi aprovado no exame de vestibular da Faculdade de Engenharia (em fevereiro de 1929) adiantando, assim, um ano da sua vida acadêmica.

 

Em março de 1930, ao completar dezesseis anos, mudou-se para o Rio de Janeiro onde assentou praça na Escola Militar de Realengo (a Escola Militar do Realengo substitui a antiga Escola Militar da Praia Vermelha e equivale ao curso da Academia Militar das Agulhas Negras, AMAN, localizada na cidade de Resende no Rio de Janeiro). A carreira militar era uma paixão que o inspirava e perseguia desde menino.

 

Na Escola Militar do Realengo, ao se apresentar para fazer as disciplinas do 1º ano do Curso Anexo (revisão obrigatória de matemática elementar para futuros cadetes), foi logo dispensado das cadeiras de Analítica, Cálculo, Física e Descritiva já cursadas na Faculdade de Engenharia do Paraná. Matriculou-se, então, nas disciplinas do 2° ano do Curso Anexo (o Curso Anexo equivale ao curso da Escola Preparatória de Cadetes do Exército, EsPCEx, com sede na cidade de Campinas em São Paulo). No Curso Anexo, embora os alunos vestissem uniformes, ainda não eram, oficialmente, cadetes.  Além das maçantes aulas teóricas, os alunos eram submetidos à rigorosa disciplina militar desde cedo: alvorada, campo de instrução militar, uniforme de campanha, mochila, cantil, fuzil Mauser, hora do banho, hora do rancho, aulas teóricas, estudo obrigatório, etc.

 

No Rio de Janeiro, durante os quatro anos que frequentou a Escola Militar, hospedou-se, nos períodos de licenciamento (davam-se a cada 15 dias), na Rua Costa Lobo (subúrbio de São Francisco Xavier) na casa de duas tias desconhecidas, Themira e Mercedes, irmãs de seu Pai. Veio a conhecê-las na adolescência e o convívio no ambiente familiar com as tias lhe trouxe grata surpresa e muita admiração.

 

Concluído e aprovado nos cursos preparatórios, Luiz Carlos Pereira Tourinho fez juramento à bandeira, recebeu uma cópia do espadim de Caxias (em escala real) e tornou-se, finalmente, cadete da Escola Militar do Realengo no dia 25 de agosto de 1930.

 

Idealista aos 17 anos, acreditava que todos aqueles jovens cadetes pautariam suas vidas no caminho da honra, da dignidade, da honestidade, do patriotismo, do desprendimento. Triste ilusão. Veio a vida a lhe ensinar: Os homens não envelhecem, os homens envilecem…

 

Promovido para o 2° ano na Escola Militar, em dezembro de 1931, Luiz Carlos Pereira Tourinho (18) passava férias em Curitiba quando conheceu e se apaixonou por Sylvia Borba Nascimento (14), menina-moça com quem viria a se casar em 1936.

 

Em novembro de 1933, foi aprovado em todas as disciplinas do 3°ano. Em dezembro passou nos exames finais de conclusão do curso da Escola Militar. No dia 25 de janeiro de 1934, amigos e parentes compareceram e prestigiaram a solenidade de lhe conduziu ao posto de Aspirante.  Nesse período, toda a família morava no Rio de Janeiro (praia do Leme em Copacabana) acompanhando o patriarca, Plínio Alves Monteiro Tourinho, na condição de Deputado Federal eleito pelo estado do Paraná.

 

Luiz Carlos Pereira Tourinho classificou-se em 11° lugar entre os dezenove Aspirantes aprovados no exame de conclusão do curso da Escola Militar. Para quem desde os seis anos de idade frequentava o quartel do 5° Batalhão de Engenharia em Curitiba, tinha pai e avô engenheiros militares, a escolha da arma acabou sendo uma decisão fácil. Como Aspirante a Oficial, apresentou-se, em 1934, no 5º Batalhão de Engenharia em Curitiba. Logo foi designado para o acantonamento de Pedra Preta, 2ª Residência de Construção da Rodovia Curitiba-Capela da Ribeira, na função de Engenheiro Auxiliar.

 

Participar da construção da Rodovia Curitiba-Capela da Ribeira significava participar do que existia de última geração em técnicas de construção de rodovias: raio mínimo de 60 metros para curvas horizontais, rampa máxima de seis por cento, revestimento de macadame hidráulico, etc. O traçado da rodovia seguia da capital paranaense em direção a estrada da Graciosa, transpunha o rio Atuba, e seguia diretamente a Bocaiuva. O projeto contava com um contingente de 4 mil trabalhadores. Foi oficialmente aberta ao tráfego em 1935, mas perdeu sua importância em 1960 com a construção da BR-116. Luiz Carlos Pereira Tourinho sentia um imenso orgulho em poder fazer parte da família do Exército Brasileiro e, em especial, iniciar a vida profissional construindo estradas seguindo o admirável exemplo do avô Monteiro Tourinho (embora ainda não possuísse o diploma de bacharel em engenharia).

 

Os longos trechos de obras na rodovia eram fiscalizados por Luiz Carlos Pereira Tourinho montado num cavalo árabe presente dado pelo Pai. Nesta fase, ao longo dos trechos em construção da rodovia Curitiba-Capela da Ribeira, começou a tomar conhecimento, pela primeira vez, das grandes dificuldades e desafios que enfrentavam as populações que viviam no interior. Uma verdadeira miséria. Todos analfabetos. Viviam em ranchos. Paredes externas de paus roliços, cobertos de palha. À noite acendiam fogueiras para atenuar o frio. Casais com mais de oito filhos. Mulheres magras, envelhecidas prematuramente pelo trabalho árduo, pelos maus tratos ou por parir um filho a cada ano. Crianças barrigudas, pálidas, famintas, mal podiam andar devido a feridas causadas por bicho de pé. Quando o patrão concluía a empreitada, acompanhavam-no em caravanas de galeotas para qualquer outro recanto onde houvesse trabalho. Não haviam escolas, estradas, transporte público nem hospitais.

 

Não permaneceu muito tempo em Pedra Preta. Em junho foi convidado para chefiar a turma de exploração que iria estudar variantes no traçado da rodovia Curitiba-Joinville (1935-1936). Porém, o diploma de bacharel em engenharia ainda lhe faltava e esta condição lhe causava uma inquietação obsessiva. Aprovado no exame vestibular da Faculdade de Engenharia, em fevereiro de 1929, quando aos 15 anos cursou o primeiro ano da Faculdade de Engenharia, voltou a visitar e negociar com a administração da Faculdade as condições do seu retorno. A frequência às aulas continuava facultativa. Foi oficialmente aprovado seu pedido de retorno. Acabou se re-matriculando no curso de Engenharia Civil. Entre 1934 e 1938, em barracas nas turmas de exploração, em casas de madeira nas Residências de Construção (Pedra Preta, São José dos Pinhais, Colônia Malhada, Serra de Castelhanos, Campo Largo da Roseira, Tapera, etc.) estudou com tenacidade até altas horas sob a luz de lampião. Ao fim de cada mês viajava à Curitiba para realizar as provas presenciais (o ano de 1937 foi um ano perdido, encontrava-se trabalhando no vale do Rio Itajaí do Norte, longe de Curitiba, impossibilitando que se deslocasse até a Capital para realizar as provas). Nas provas, saiu-se muito bem. Foi aprovado. Passou por média em todas as disciplinas, o que lhe rendeu o privilégio de ser dispensado dos exames finais (grande parte do seu sucesso nos bancos acadêmicos se dá, em especial, ao alto nível e a excelência dos professores da Escola Militar).

- Foto da esquerda: festa de formatura do curso de Engenharia Civil com Sylvia. - Foto da direita: esposa Sylvia e os 4 filhos (Luiz Fernando, Luiz Carlos, Plínio e Lúcia Helena).

– Foto da esquerda: festa de formatura do curso de Engenharia Civil com Sylvia.

– Foto da direita: esposa Sylvia e os 4 filhos (Luiz Fernando, Luiz Carlos, Plínio e Lúcia Helena).

Casou-se com Sylvia Borba Nascimento, no dia 23 de janeiro de 1936. Tiveram 4 filhos (Luiz Fernando, Luiz Carlos, Plínio e Lúcia Helena). Colou grau em 1938. Ao se formar ganhou da esposa o anel da colação de grau. Aos 25 anos, estava casado, era capitão, engenheiro civil e pai do primeiro de 3 filhos. Considerava-se um homem realizado.

 

Como engenheiro diplomado, em 1938, foi nomeado comandante da 1ª Companhia e Chefe da 1ª Residência de Construção acantonada em Tapera (hoje Vossoroca, Tijucas do Sul). Lugarejo à margem do rio São João, localizado a 80 km de Curitiba, o capitão Tourinho conduziu os trabalhos de construção e fiscalização da estrada com um efetivo composto por 200 soldados e 100 operários.

Luiz Carlos Pereira Tourinho com a esposa Sylvia, ao ser nomeado comandante da 1ª Companhia e Chefe da 1ª Residência de Construção acantonada em Tapera (represa de Vossoroca) à margem do rio São João (1938).
Luiz Carlos Pereira Tourinho com a esposa Sylvia, ao ser nomeado comandante da 1ª Companhia e Chefe da 1ª Residência de Construção acantonada em Tapera (represa de Vossoroca) à margem do rio São João (1938).

No ano de 1940, no posto de capitão, quando a 2ª Grande Guerra se tornou mundial, serviu no Ministério da Guerra (Rio de Janeiro), na Inspetoria de Engenharia, junto com o general Manoel Rabelo, ex-interventor de São Paulo.

 

Entre os anos de 1942 e 1945, residiu em Guarapuava onde ficou encarregado pela elaboração de projetos e construção de quartéis para o Exército Brasileiro. Projetou e construiu o quartel do 1° Batalhão de Fronteira, localizado em Laranjeiras do Sul. Consagrou-se, neste período, com a construção do quartel do 15º Regimento de Cavalaria Independente e Vila Militar em Guarapuava (guarnição com aproximadamente 750.000 m², composta por 40 pavilhões entre alojamentos, rancho, depósitos e baias). Engenheiro Chefe das obras dos aquartelamentos do 13° R.I. e 15° R.C.D. em Ponta Grossa e Castro.

 

Em 1946 chefiou o 5° Batalhão de Engenharia de Combate na cidade de Porto União (quando Sylvia estava grávida do último filho). Em 1947, cursou a Escola de Aperfeiçoamento dos Oficias do Exército no Rio de Janeiro. Em 1949 prestou concurso de títulos e provas para docente-livre da Cadeira de Estatística Matemática Economia Política e Finanças da Faculdade da Universidade do Paraná. Admitido no quadro de professores teve o privilégio de encontrar diversos contemporâneos do tempo do curso de Engenharia Civil: Samuel Chamecki, Parigot de Souza, Paulo Aguiar, Ralf Leitner, Francisco Driese’l, José Cavalin, Camil Gemael, Paulo Wendler. Foi catedrático interino e professor titular das disciplinas de Estatística Matemática Economia Política e Finanças, Engenharia de Transporte, e Economia de Engenharia no período de 1949 a 1988.

 

O ano de 1950, ano que o Brasil organiza sua primeira Copa do Mundo, foi marcado pela perda súbita do Pai que faleceu aos 68 anos no dia 29 de agosto.

 

Em fevereiro de 1951, Luiz Carlos Pereira Tourinho assumiu a diretoria do DER no Paraná (Departamento de Estradas de Rodagem mais tarde com o nome de Superintendência Regional do DENIT Paraná) onde permaneceu até 1954. Como diretor do DER, na administração do governador Bento Munhoz da Rocha, Luiz Carlos Tourinho foi o grande responsável pela elaboração do atual Plano Rodoviário do Estado do Paraná, aprovado por unanimidade no Conselho Rodoviário Estadual. Pela primeira vez um plano audacioso de tal natureza e envergadura levava em conta não só os fatores econômicos, políticos e sociais, mas, também, as condições topográficas do território regional e, sobretudo, a atração das articulações marítimas com relação aos portos de Paranaguá e Antonina. As principais ligações rodoviárias possuíam as diretrizes montadas nos grandes divisores de água, e desempenhavam no Plano Rodoviário um papel vital ao desenvolvimento econômico do Estado, duas se destacavam em importância, de interesse da União, dada a sua posição geográfica, tornando-se rodovias federais construídas em terreno paranaense: a BR-104, Paranavaí-Ponta Grossa-Curitiba (atual Rodovia do Café, BR-376) e a BR-35, Foz do Iguaçu-Paranaguá.

 

O plano rodoviário era um projeto arrojado e foi concebido com o objetivo de alavancar o desenvolvimento do território paranaense que se baseava na economia agrária e no extrativismo (café, feijão, milho, arroz, batata inglesa e, em menor escala, o trigo em conjunto com a madeira e a erva-mate). O plano, elaborado por Luiz Carlos Pereira Tourinho (integrando o eixo rodoviário interior-capital-litoral e prevendo traçado com duas pistas de rolamento em pavimento asfáltico), recebeu Menção Honrosa do Conselho Rodoviário Nacional.

 

Ao elaborar o projeto da nova rodovia Curitiba-Ponta Grossa, utilizando o auxílio de recursos aerofotogramétricos (técnica utilizada pela primeira vez no Brasil), Luiz Carlos Pereira Tourinho julgou como melhor solução seguir de São Luiz do Purunã diretamente a Ponta Grossa, deixando a cidade Palmeira à margem da rodovia. A outro lado, refazendo o estudo da rodovia Ponta Grossa-Apucarana, Luiz Carlos Pereira Tourinho decidiu ligar Ponta Grossa diretamente a Ortigueira, deixando, desta vez, Tibagi à margem da rodovia. Foi muito natural que os representantes daqueles dois municípios, na Assembléia Legislativa do Paraná, reivindicassem, junto ao governador, a mudança de traçado da rodovia. Luiz Carlos Pereira Tourinho e sua equipe técnica de engenheiros do DER, em exposição exclusivamente técnica, demonstraram que as duas soluções trariam um encurtamento de 40 km entre Apucarana e Curitiba. Na média de 4 mil veículos-dia, representavam uma economia de 160 km-dia, ou 60 milhões de km/ano, ou ainda 10 milhões de litros de combustível por ano sem falar do óleo lubrificante, dos pneus, do desgaste das peças, do tempo de percurso. Inteligentes e bem-intencionados, os deputados só tiveram que concordar.

 

Na execução do projeto, tudo era muito difícil. As pedreiras eram raríssimas. Foi preciso mandar importar cerca de 10 mil toneladas de asfalto (na época, quantidade indisponível nas usinas dos maiores empreiteiros da região). Duas visitas foram feitas pessoalmente ao presidente Getúlio Vargas na tentativa de acelerar a liberação da licença de importação do asfalto. Obtida a licença, o Governo do estado do Paraná deu início a um fato inédito, pela primeira vez na história do Brasil, seria realizado a pavimentação de mais de 500 km de estradas de primeira classe. Em 1953 foi inaugurado o primeiro trecho do plano rodoviário paranaense ligando as cidades de Londrina e Cambé.

 

Na época, as medições finais dos trechos das estradas concluídas ficavam a encargo do Engenheiro Fiscal de obras. Na administração de Luiz Carlos Pereira Tourinho institui-se uma nova instrução normativa para dar maior transparência no trato da coisa pública: os fiscais procederiam apenas as medições e classificações parciais, as medições e classificações finais ficariam a cargo de uma comissão técnica designada pelo diretor do DER. A nova diretriz resultou numa economia considerável para o erário público. Por exemplo, o custo médio do metro cúbico de material escavado caiu, repentinamente, de 21 para 13 cruzeiros. Entre 1951 e 1954 foram escavados, pelo DER-PR, cerca de 25 milhões de metros cúbicos de solo natural e rochas. Portanto, o DER obteve uma economia de 200 milhões de cruzeiros, na época, o equivalente a 10 milhões de dólares.

 

Como membro do Conselho Rodoviário e do Conselho de Trânsito do Paraná entre 1951 e 1954, representou o estado do Paraná nas reuniões da Comissão da Bacia Paraná-Uruguai, de 1953 a 1954, e organizou a V Reunião das Administrações Rodoviárias, realizada em Curitiba em 1953.

 

No âmbito político, Luiz Carlos Pereira Tourinho foi presidente do antigo Partido Social Progressista (PSP). No pleito de outubro de 1950 elegeu-se terceiro suplente de deputado estadual no Paraná pelo PSP, não tendo exercido o mandato nessa legislatura.  No pleito de outubro de 1954, no posto de tenente coronel, licenciou-se do exército e elegeu-se deputado federal pelo Paraná na legenda do mesmo partido. Em números percentuais, foi o Deputado Federal eleito com o maior número de votos em toda a história do Paraná. Serviu como representante do povo paranaense na legislatura de 1955 a 1959 quando o Presidente da República era Juscelino Kubitschek (JK). Em outubro de 1955, candidatou-se ao governo do estado, pelo PSP, mas foi derrotado por Moisés Lupion, do Partido Social Democrático (PSD). Em 1958, foi candidato a prefeito da cidade de Curitiba (perdendo a eleição para seu cunhado, engenheiro Iberê de Mattos, candidato que contava com o apoio do futuro Vice-Presidente da República, João Goulart). Em outubro de 1962, tentou retornar a carreira política, disputando uma vaga na Assembléia Legislativa paranaense, na legenda do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), mas não logrou êxito. Suas campanhas políticas sempre foram muito modestas. Conduziu-as sem contar com um tostão no bolso. Não aceitou doações nem recursos provenientes do setor público, privado, ou contribuições feitas por particulares.

 

Foi nomeado Diretor Técnico da Companhia Paranaense de Eletricidade (COPEL) em 1960.

 

Em 1968, foi nomeado Interventor Federal do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária (IBRA).

 

Foi diretor da Faculdade de Engenharia em 1971 e 1972 e, no mesmo período, chefe do Departamento de Transportes da Universidade Federal do Paraná.

 

Em 1973, exercendo interinamente a diretoria da Escola de Engenharia, encabeçou, por unanimidade, a lista sêxtupla para a nomeação de Reitor da Universidade Federal do Paraná no quatriênio de 1974 a 1978 (função que já havia exercido, em caráter temporário, no período de 1971 a 1972, por ser o mais antigo membro da Congregação). Aconteceram, porém, dois fatos relevantes que levaram seu nome a ser retaliado nas altas esferas ministeriais. Primeiro, como membro do Conselho Universitário, na qualidade de diretor da Escola de Engenharia, Luiz Carlos Pereira Tourinho votou contra a aprovação das contas do Reitor, eivadas de imoralidades, como consta da Ata existente nos arquivos da Universidade Federal do Paraná. Por adotar postura íntegra e honesta, passou a ser “bombardeado” junto ao Ministro da Educação, pelos quadros que se sentiram injustiçados no meio acadêmico. Segundo, ao deixar o cargo de interventor do IBRA (Instituto Brasileiro de Reforma Agrária), em 1968, entregou relatório alertando ao chefe do SNI (Serviço Nacional de Inteligência) que a corrupção corria solta, nas “barbas” do SNI, instituto criado pelo próprio regime militar (1964-1985). O chefe do SNI, na época o general Emílio Garrastazu Médici, que se tornou presidente do Brasil em 1969, não gostou. Como consequência, Luiz Carlos Pereira Tourinho sofreu as represálias do governo militar. Quando chegou ao seu conhecimento, em 1973, que o nome de Luiz Carlos Pereira Tourinho, encabeçava a lista sêxtupla para o cargo de reitor (lista elaborada pela Congregação da Faculdade de Engenharia do Paraná), o Presidente Médici o vetou.

 

A partir de 1971 e 1973, respectivamente, assumiu a Presidência do Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico Paranaense (IHGPR) e Instituto de Engenharia do Paraná (IEP).

 

Quando no Conselho Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico, na qualidade de presidente do Instituto Histórico e Geográfico, foi alvo de duras críticas por ter proposto o tombamento do corpo principal do edifício da Estação Ferroviária, hoje Museu Ferroviário, na praça Eufrásio Corrêa. A Prefeitura de Curitiba mostrava interesse na demolição do edifício para o prolongamento da Rua Barão do Rio Branco pela Rua Rockefeller. Dizia-se não possuir, o edifício, características de importância arquitetônica. Porém, a Prefeitura relevava a importância histórica do local. A estação é uma reprodução de edificações similares italianas que possibilitou o movimento de passageiros e o surgimento das primeiras linhas de bondes de mulas, hotéis e pensões na região central de Curitiba. A partir de 1885, o local passou a ser o centro fabril e comercial da capital paranaense.

Edifício Estação, Museu Ferroviário de Curitiba na praça Eufrásio Corrêa
Edifício Estação, Museu Ferroviário de Curitiba na praça Eufrásio Corrêa

O IHGPR, com mais de 100 anos de existência, publicou 60 Boletins de autores paranistas (paranista consiste num grupo de historiadores e escritores, cujo estilo literário repousa num estado de espírito que denota uma admiração, entusiasmo e vanglória em admirar, exaltar, defender e difundir, com espírito ufano, a história, a cultura, as letras, as coisas e os interesses do estado e do povo do Paraná).  Só na gestão de Luiz Carlos Pereira Tourinho (1970 a 1998) foram publicados 38 volumes, o maior número de boletins já publicados na gestão de um mesmo presidente. De 1917 a 1969, em 52 anos, foram publicadas 1.766 páginas (34 páginas por ano) e de 1970 (início da gestão Luiz Carlos Pereira Tourinho) até 1995, 9.312 páginas, perfazendo a média nesses 25 anos de 370 páginas por ano. Somados aos 38 números do BOLETIM, perfazem 77 publicações em menos de 22 anos, ou 20 mil páginas de História do Paraná, resultado ainda não alcançado, no Paraná, por nenhuma outra instituição de caráter cultural, pública ou privada, embora a escassez de recursos.

 

Em “TOIRO PASSANTE V – TEMPO DE REPÚBLICA GETULIANA”, página 115, volume que pertence à coleção Estante Paranista do IGHPR, a seguinte passagem resume o grande respeito e admiração que Luiz Carlos Pereira Tourinho sempre cultivou pelo povo do Paraná:

“No ditado popular percebi quanta sabedoria havia escondida na nossa gente do interior, fossem caboclos descendentes de índios, alemães conterrâneos de Goethe, italianos vindos de Florença, ou poloneses das margens do Vístula

Como presidente do IEP, Luiz Carlos Pereira Tourinho teve atuação decisiva na organização e arrecadação de recursos orçamentários que permitiram a finalização da construção e inauguração do edifício-sede, que se passou a chamar Edifício Plínio Alves Monteiro Tourinho no cinquentenário comemorativo da Instituição em 1976. O edifício de 12 andares, construído em terreno doado pelo govenador Bento Munhoz da Rocha Neto, no início da década de 1950, foi concluído na sua gestão 23 anos depois de iniciadas as obras. No período em que esteve na presidência do IEP, por 16 anos (1973 a 1987 e 1993 a 1995), organizou congressos, simpósios, palestras, debates e eventos técnicos sobre os grandes temas e questões ligadas a Engenharia. Promoveu os Engenheiros servidores do Estado e prestigiou as empresas paranaenses de engenharia. Batalhou pela criação da regional do Paraná da Rede Ferroviária Federal (RFFSA) que se concretizou em 1975 após encontro realizado com o diretor geral da RFFSA nas dependências do IEP em Curitiba.

 

Luiz Carlos Pereira Tourinho foi sócio-correspondente dos institutos históricos e geográficos de Minas Gerais, Santa Catarina, Sorocaba, Ponta Grossa, do Instituto Militar de História e Geografia e membro da Academia Nacional de Engenharia. Foi, também, membro da Academia Paranaense de Letras. Foi conselheiro federal junto ao CONFEA e vice-presidente da FEBRAE – Federação Brasileira de Associações de Engenheiros. Em 1991, foi um dos quatro engenheiros brasileiros homenageados com a primeira Medalha do Mérito do Sistema CONFEA/CREAs, pelos relevantes serviços prestados à Engenharia, mesmo motivo que o levou a ser escolhido o primeiro Engenheiro do Ano, honraria instituída pelo IEP em 1995, recebendo o Troféu Paraná de Engenharia.

Luiz Carlos Pereira Tourinho com palestrante no IEP (esquerda) e como Paraninfo (direita)
Luiz Carlos Pereira Tourinho com palestrante no IEP (esquerda) e como Paraninfo (direita)

Começou a lecionar na Universidade Federal do Paraná em 1949 (carga mínima de duas aulas semanais). Profissional com grande destaque e carisma no corpo técnico da Escola de Engenharia, foi eleito paraninfo, pela primeira vez, em 1951. Admirado e respeitado pela sua grande notoriedade acadêmica e profunda integridade moral recebeu 15 vezes a nobre missão de atuar, em sessão solene pública, como patrono ou paraninfo na outorga de grau dos alunos que concluíram o curso superior de graduação em Engenharia.

 

Recebeu vários títulos e condecorações no decorrer da vida, entre eles: Medalha do Plácido de Castro, Medalha do Pacificador, Comendador da Ordem do Mérito Militar, Grande Oficial da Ordem do Pinheiro, Medalha de Pedro Alvares Cabral, Cidadão Benemérito do Paraná, Troféu Paraná de Engenharia IEP.

 

Luiz Carlos Pereira Tourinho faleceu no dia 31 de maio de 1998 deixando esposa, 4 filhos, 13 netos e 2 bisnetos.

Emblemas que contam a história e a trajetória da vida de Luiz Carlos Pereira Tourinho
Emblemas que contam a história e a trajetória da vida de Luiz Carlos Pereira Tourinho

Luiz Carlos Pereira Tourinho e Descendentes Diretos. (Filhos, Netos e Bisnetos)

5.6. Ayrton Pereira Tourinho – General de Exército (1915-2005)

Ayrton Pereira Tourinho nasceu no dia 13 de março de 1915 na cidade de Curitiba. Iniciou a vida acadêmica em colégios públicos, como o Grupo Escolar Anexo à Escola Normal e o tradicional Ginásio Paranaense, atual Colégio Estadual do Paraná. Assentou praça na Escola Militar do Realengo, no Rio de Janeiro, em 1931. Iniciou a carreira militar em 1934 no posto de aspirante a oficial. Seguiu a tradição dos antepassados e, na vida militar, abraçou a engenharia como arma para a vida profissional.

 

Como oficial, em 1935, aos 20 anos, no posto de 2º tenente, trabalhou no 5º Batalhão de Engenharia na construção das rodovias Curitiba-Capela da Ribeira e Curitiba-Joinville. Como 1º tenente, foi chefe do Escritório Técnico Central (ETC) da CER em 1937/1938. Mais tarde, em 1940, no 3° Batalhão de Engenharia, sediado em Cachoeira do Sul, no Rio Grande do Sul (na época a guarnição se chamava 2º Batalhão de Pontoneiros), acompanhou a implantação de projetos de pontes, estradas de ferro e rodovias tarefa que, na época, ficava a encargo do Exército brasileiro. Em 1941, foi classificado no 5º B.E. Cmb em Porto União (SC), na função de comandante da Cia de Equipamentos e Pontes.

 

Conheceu Gleusa Giordano Medeiros com quem contraiu núpcias em 1939. Tiveram três filhas: Glay, Suely e Elaine. Dona Gleusa, companheira de todos os momentos, era filha do heroico capitão Osmã Medeiros, brutalmente assassinado em Curitiba no final de um comício realizado dias antes da Revolução de 1930.

Casamento, Ayrton e Gleusa Tourinho, em 1939
Casamento, Ayrton e Gleusa Tourinho, em 1939

Foi Instrutor Chefe da Arma de Engenharia no CPOR (Centro de Preparação de Oficiais da Reserva) de Curitiba, no ano de 1944 quando era capitão. Promovido a major em 1946. Concluiu o curso da Escola de Comando e Estado Maior do Exército em 1948 (ECEME). Voltou para Curitiba em 1952, no posto de tenente-coronel, onde atuou como Chefe da Comissão Militar de Rede Nr. 5 (CMR-5). Fez cursos de aperfeiçoamento na Divisão de Treinamentos do Fort Belvoir nos Estados Unidos nos anos de 1944 e 1959. Em 1961 foi promovido a coronel e transferido para Brasília como chefe de Gabinete do Ministro do Exército, Marechal Odílio Denis, onde permaneceu até a renúncia do presidente Jânio Quadros. Em 1962 foi transferido para o Rio de Janeiro no cargo de Diretor da Diretoria de Vias de Transportes (DVT) e cuja função era coordenar, administrar e inspecionar a construção de obras Públicas Federais nas áreas de Rodovias, Ferrovias, Portos, Abastecimento e Moradia.

 

Em 1963, comandou o 2° Batalhão Ferroviário de Rio Negro quando ocorreu o Movimento Militar de 1964. Comandou a construção da linha férrea entre Rio Negro e Lages, linha pertencente ao Tronco Principal Sul (TPS), ramal ferroviário com 290 km de extensão. A superestrutura ferroviária, no trecho do estado de Santa Catarina, apresentava altitudes superiores a 1200 metros e foi servido por 37 túneis. O Tronco Sul foi inaugurado em março de 1969 com a presença de autoridades civis e militares, contanto, inclusive, com a presença do presidente da República, o Marechal Arthur da Costa e Silva. O trecho foi motivo de grande entusiasmo e profundo orgulho para o general Ayrton. A conclusão do empreendimento representou o coroamento glorioso de uma obra ferroviária com papel relevante do ponto de vista socioeconômico e político-estratégico para o estado e para a união.

 

No decorrer dos anos de oficialato, fez, também, os cursos da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais do Exército (EsAO) e Escola de Comando e Estado Maior (ECEME) da qual foi instrutor. Como instrutor, acumulou vários elogios pelo preparo pedagógico e maneira altamente eficiente como ministrou as seções de instrução de Engenharia Militar. Em 1964, o Chefe do Estado-Maior do Exército, general Décio Palmeiro Escobar, em reunião com o Presidente da República, Humberto de Alencar Castello Branco, confirmou a nomeação do coronel Ayrton Pereira Tourinho para o posto de adido militar e aeronáutico da Embaixada do Brasil no Chile no período de 1965 a 1967.

 

Em 1966 foi promovido ao posto de General-de-Brigada tendo como primeiro comando o Grupamento de Elementos de Fronteira (GEF) localizado na Amazônia (8ª RM) onde serviu pelo período de dois anos. Assumindo, em seguida, a Chefia do Departamento de Vias e Transportes da Diretoria de Engenharia do Exército quando foram concluídas as obras da rodovia Ponta Grossa-Foz do Iguaçu, com 536 km, assegurando ao Paraguai uma saída ao oceano Atlântico com livre acesso pelo Porto de Paranaguá. Em 1970 fez parte do corpo graduado de alunos da Escola Superior de Guerra (ESG).

 

Em 1971, foi promovido a General-de-Divisão, assumindo o comando da 5ª Região Militar (esteio da Revolução de 1964), na qual permaneceu durante três  anos, marcando sua atuação como líder militar isento e correto, impermeável aos envolvimentos menores da vida social e política. Foi durante o seu comando (1974), na gestão do Prefeito Jaime Lener, quando o novo aquartelamento da 5ª RM/DI, no bairro do Pinheirinho em Curitiba, foi projetado e construído. O novo Quartel General da 5ª Região Militar e 5ª Divisão de Infantaria passou então a ser designado como quartel da Região dos Heróis da Lapa.

 

Em 1974 foi exonerado do comando da 5ª RM/DI e nomeado para o DGP (Departamento Geral de Pessoal) onde exerceu a função de Vice-Chefe. Em 1976 foi promovido a General-de-Exército tornando-se o primeiro paranaense a conquistar o posto mais alto do Exército Brasileiro. Na sequência, ainda no ano de 1976, foi nomeado para comandar a ESG (Escola Superior de Guerra). Em 1977, assumiu o comando do Departamento de Engenharia e Comunicações do Exército (DEC). Em 1978, após completar 12 anos de generalato foi transferido para a reserva.

Entrega da medalha “Estrella ao Merito Militar” concedida pelo governo do Chile, em 1966.
Entrega da medalha “Estrella ao Merito Militar” concedida pelo governo do Chile, em 1966.
Solenidade de passagem do comando da 5ª RM/DI realizada na praça Santos Andrade, em 1971
Solenidade de passagem do comando da 5ª RM/DI realizada na praça Santos Andrade, em 1971

Foi agraciado com as ordens: Comendador do Mérito Militar, Comendador do Mérito Naval, Comendador da Ordem de Rio Branco, Medalha Militar de Ouro com o Passador de Ouro, Medalha de Guerra, Medalha do Pacificador, Medalha “Estrella ao Merito Militar”, do Chile. O prefeito Jaime Lerner concedeu o título de Vulto Emérito da cidade de Curitiba, em homenagem ao primeiro paranaense a chegar ao posto de general quatro estrelas (lei ordinária 4.612/1973). Em 1997 foi agraciado pela Escola Superior de Guerra com a medalha do mérito Marechal Cordeiro de Freitas (Portaria 2.514/EMFA).

 

Ayrton Pereira Tourinho demonstrou desejo ardente de servir ao Exército Brasileiro, sempre com mesmo amor e patriotismo que lhe fora exortado na Escola Militar. Faleceu no dia 2 de dezembro de 2005, aos 90 anos, deixando filhas, netos e bisnetos. Ayrton, Francisco, Mário, Plínio e Luiz Carlos Tourinho são verdadeiros protótipos de virtudes e honradez que mantém firmes os fundamentos que alicerçam o Exército de Caxias, Osório e Gomes Carneiro.

Ayrton Pereira Tourinho com o Ajudante de Ordem, Major Luiz Fernando Nascimento Tourinho, em visita oficial à cede do Jornal Gazeta do Povo (Curitiba), em 1966.
Ayrton Pereira Tourinho com o Ajudante de Ordem, Major Luiz Fernando Nascimento Tourinho, em visita oficial à cede do Jornal Gazeta do Povo (Curitiba), em 1966.

Ayrton Pereira Tourinho e Descendentes Diretos. (Filhos, Netos e Bisnetos)